terça-feira, 2 de junho de 2009

BELAS -ARTES E SEGREDOS CONVENTUAIS



(...) O enterro das vozes, naqueles tempos de ansiedade e alguma alegria, era a terrível desvantagem de exercer funções docentes na mesma escola onde eu próprio aprendera sonhos dispersos, truques, apetites encobertos sob o manto diáfano que amaciava, mágico, a grotesca presença da realidade. Esquecera quase todas as minhas colegas - não os rostos, os diferentes tipos de beleza, mas a identidade dos seus passos perto de mim, a doçura e a origem, e já não podia,quase de todo, saber do paradeiro do João Avelar, do Corte Real, da Vera, de vários outros. E assim, de mistura com as idas à Leitaria e a lembrança dos carros do Acácio, sobravam diferentes imagens mais fortes, o afrontamento das regras tradicionais, emergindo no pântano em volta, ou a luta secreta pela liberdade. Cinco anos depois, qualquer aluno era mais livre do que um pobre assistente, funcionário público apanhado nas redes do poder, sempre na contingência de morder o anzol.(...)

Belas-Artes e Segredos Conventuais, de ROCHA DE SOUSA

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