terça-feira, 24 de janeiro de 2017

segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

ANTÓNIO CABRAL


Capa e Desenhos de ESPIGA Pinto


domingo, 22 de janeiro de 2017

quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

BARROSO DA FONTE




Imagem da Capa - NADIR AFONSO



sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

ROCHA DE SOUSA




Capa - ROCHA DE SOUSA



sábado, 7 de janeiro de 2017

A Luz da Epifania




Concerto de REIS



Ontem, dia de Reis, a Sé Catedral do Porto encheu para
o belíssimo Concerto "A Luz da Epifania".


"O mistério sagrado da Epifania é maravilhosamente narrado no Evangelho de São Mateus. Ao chegarem os magos a Jerusalém, procuram a localização do rei dos judeus que acabara de nascer. Os mestres da lei asseguram que o Messias deveria nascer em Belém. Ao encontrarem Maria e a criança, os magos oferecem-lhe ouro, incenso e mirra, preciosidades nas quais a tradição reconhece a nobreza de Cristo Salvador (ouro), a sua divindade (incenso) e a sua humanidade (mirra)."

O Programa foi divinal: Bach, Vivaldi, Handel e Telemann foram pura magia para esta gloriosa festa da esperança.


FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES


























É so clicar:


http://paosointegral.blogspot.pt/2017/01/iv_6.html




sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

Hoje, dia de Reis, aniversário de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES


6 de Janeiro - Dia de Reis




FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
       Escritor - Poeta
       (1943-1988)

A OUTRA FACE DO ESCRITOR

Entrevista conduzida por Joaquim Matos, director do Jornal "Letras e Letras", publicada no nº 42, 6 de Março de 1991.


P - O que mais a marcou na sua vida, o Homem ou o Escritor?
R - Neste momento, não quero que as palavras me atraiçoem o pensamento. Tentarei ser clara e completa. O meu esforço será de sinceridade e de exactidão. Claro que pagarei o preço da recordação e dar-lhe-ei reflexões desencantadas do tempo que passou demasiado depressa.
Sabe, sou uma mulher terrivelmente apaixonada, é o amor que conduz a minha vida e não consigo desligar o Homem do Escritor.
Os seus ideais tiveram tempo de penetrar em mim com suficiente profundidade e a memória do nosso passado mais remoto conserva a marca do Homem, do companheiro, do amigo, do amante, e do Escritor que compartilhou comigo quase vinte anos de emoções profundas, inquietações, angústias e alegrias.

P - Quando casou, sonhou a vida que levou ou outra?
R - Quando me casei estava tão apaixonada que o meu único sonho era estar sempre com o Fernão. Não sou uma "serigaita das letras" e aquilo que eu vivi era realmente amor. A minha necessidade de afecto tinha a ilusão da pureza e os meus combates interiores davam-me coragem e equilíbrio. Tive uma vida plena, acabada, fixada pelo amor e pela ternura. O Fernão sempre me aprovou, protegeu, compreendeu, por vezes, me combateu, e partilhou comigo, com igual fervor, as alegrias do trabalho e da vida.
A mulher tem de saber orientar-se, oscilar entre a família e os amigos, entre o presente e o passado.

P - A actividade literária de Fernão de Magalhães Gonçalves prejudicou o casamento?
R - Não. Amávamo-nos tanto quanto é possível amar, com uma enorme paixão recíproca.
De resto, se me observo com lucidez, concluo que a minha atitude perante a vida foi mais influenciada pelos livros do que pelas pessoas.
Juntos, ansiávamos a sua afirmação, como Poeta e como Escritor. Para mim, a vida tinha uma nova intensidade. Ceder, transigir, ou lutar, era uma constante nas imagens que nos obcecavam.

P - Qual a atitude de Fernão de Magalhães Gonçalves perante as tarefas caseiras?
R - Às vezes, colaborava. Mas sempre foi terrivelmente desajeitado.

P - Como passavam as férias?
R - Dependia do dinheiro e da disposição que tínhamos. Éramos muito sensíveis à doçura do lar. A casa sempre nos deu um sentimento de confiança e de paz. Os verões, em Chaves, eram aproveitados para terminar algum livro.
Emprestávamos livros um ao outro e líamo-los juntos. Normalmente, para relaxar, Simenon era o nosso companheiro.
Fazíamos viagens e encontrávamos amigos. São tantos os laços que nos prendem aos lugares onde vivemos que nos parece, ao partir, que ficámos também.

P - Preocupavam-se com a defesa do matrimónio? O lugar por excelência era a casa, as relações sociais, ou as ocupações culturais?
R - Não. O nosso matrimónio estava defendido pela maneira como nos comportávamos. Os laços afectivos, que nos união, ganhavam, cada dia, mais força e vivíamos despreocupados. Nunca vivemos de aparências, sempre fomos claros e transparentes.
Não acredito no destino. Estou convencida, isso sim, de que nos devemos bater para preservar aquilo que amamos e não creio que as minhas interpretações sejam românticas e injustas.
A casa sempre foi o centro do nosso mundo, de maneira espontânea e instintiva.

P - Tiveram filhos? A sua educação foi prejudicada pela carreira de escritor do pai?
R - Não. Tínhamos optado por esperar. Em Seoul, pensávamos ter o primeiro filho.
Quando desaparecem aqueles que amámos, escasseiam as razões para conquistar uma felicidade que já não podemos saborear juntos.

P - É fácil ser mulher de um escritor?
R - Penso que devemos desmistificar a atmosfera que envolve um escritor. Um escritor é um ser humano com as suas aspirações, as suas virtudes, os seus vícios e as suas misérias.
Claro que o Fernão, como todos os artistas, era um hipersensível, um idealista e obcecado pela tragédia do real e a magia do maravilhoso. Era emotivo, afectivo, trabalhador, desorganizado a maravilhosamente terno. O seu desassossego escondido trazia para o papel poemas que o libertavam desses terríveis instantes de agonia.
Ser mulher de um escritor é fácil quando compartilha a mesma paixão e é extremamente difícil nos breves momentos de desespero.

P - Sacrificou-se pelo escritor ou pelo marido?
R - Não sinto que me sacrifiquei. Sempre procurei viver as suas preocupações culturais, as suas paixões. A minha sensibilidade, aguçada pelo sofrimento da morte do Fernão, que me afligiu desmedidamente, deixou-me terrivelmente perturbada e atormentada, limitando-me a uma fase da vida que eu não consigo superar inteiramente.

P - Como viveu os bons e os maus momentos da carreira literária de Fernão de Magalhães Gonçalves? Quer recordar os mais significativos?
R - Sempre estive ao seu lado, vivendo as mesmas alegrias ou frustrações. Sou uma sentimental. Sempre me sinto feliz, ou infeliz, ou comovida.

P - Financeiramente e socialmente recompensa ser escritor?
R - Financeiramente é uma ruína. Socialmente nunca lhe dei importância! Nunca senti o erotismo do poder. Creio que o poder como instrumento, em si mesmo, não exerce qualquer fascínio.

P - Fernão de Magalhães Gonçalves foi apenas escritor?
R - O Fernão foi, em primeiro lugar, um homem muito especial a quem se podem dedicar elogios ou insultos, um bom companheiro, um bom filho, um bom irmão, um amigo certo e muito sincero, frontal e honesto. Um professor óptimo, um apaixonado por todas as expressões criativas.

P - Fernão de Magalhães Gonçalves trocava impressões consigo sobre o que escrevia? A Manuela gostava de ler as obras de seu ?
R - Sim. Fui sempre a sua primeira leitora. Não conseguirei nunca ler os seus textos com o desencanto que gostaria de impor a mim mesma, analisá-los com frieza Gostava e gosto muito de reler os livros do Fernão.

P - Fernão de Magalhães Gonçalves tinha um horário rígido para escrever?
R - Não. A sua escrita era impulsionada pela vontade. Obedecia aos impulsos, à inspiração, aos arrebatamentos, não aos horários.

P - Vivia a vida do escritor ou tolerava-a?
R - Vivi a vida com Fernão de Magalhães Gonçalves. Era um homem fora do comum, como suponho que são todos os escritores e artistas. Era de uma simplicidade desarmante. Tinha um grande sentido de humor. Tinha tempo para o supérfluo.

P - Acompanhava o seu marido nas "cerimónias" literárias?
R - Sim, sim. Estive sempre com o meu marido em todas as situações.

P - Fernão de Magalhães Gonçalves teve problemas com a publicação das suas obras? E com as gralhas? E com as críticas?
R -  O Fernão publicou, quase tudo, por conta própria. Ficava enervado com as gralhas e indiferente com as críticas.

P - O que pensava Fernão de Magalhães Gonçalves da emancipação da mulher?
R - O Fernão sempre acreditou na igualdade entre os homens e as mulheres. Mesmo nos íntimos detalhes nunca tentou transfigurar os seres humanos, filtrou-os e enriqueceu-os com muita candura.

P - O que aprecia mais na obra do seu Marido? De todos os títulos que ele publicou, qual o que mais a prendeu?
R - Todos os seus textos merecem o meu respeito e a minha admiração. Os livros de ensaio são rigorosos, profundos e elaborados. Os livros de ficção são penetrantes. As suas personagens adquirem vida própria. Ele procurava adverti-las, mas em vão. O destino de  cada uma estava definido. E as personagens caminhavam com a dor da memória no fundo dos olhos. A sua cara é plena de sofrimento. No entanto, sinto-me mais próxima da sua Poesia. Gosto mais da Poesia. Júbilo da Seiva e Memória Imperfeita são os títulos que mais me prenderam. Ele sabe, com arte, abordar o sonho. Os seus poemas são corpo, suor, erotismo, sensualidade e memória. Não são uma armadilha, são uma arte que nos arrasta pela força e emotividade, mas que deixam subsistir no nosso espírito uma certa insatisfação que as coisas físicas não são capazes de dissipar sozinhas.

P - Fernão de Magalhães Gonçalves deixou muitos inéditos?
R - Sim. Com regularidade, tenho continuado a publicação dos textos inéditos.

P - Tem procurado transformar a sua ausência numa presença? Como?
R - Tenho procurado manter a pureza da memória que me deixou. . .

P - Qual a pergunta que gostaria que lhe fizesse e que não foi feita? E qual a resposta?
R - (Sem resposta)

Manuela Morais