MEMÓRIA DO CORPO
Não há morte na memória do teu corpo
apenas o gesto de mastigar a neve
o cansaço furioso
o bafo cinzento da respiração
gosto do teu corpo
do sal do teu suor
dedos deslizando nos dedos o
gosto da tua saliva
passa o tempo e desfaz-se
derretido na concha da tua boca
mas hoje os teus olhos são barcos ancorados
que não atravessam o rio dos meus versos
e as mãos nas tuas mãos
são só dedos
dispersos.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
domingo, 29 de novembro de 2009
sábado, 28 de novembro de 2009
quinta-feira, 26 de novembro de 2009
quarta-feira, 25 de novembro de 2009
terça-feira, 24 de novembro de 2009
segunda-feira, 23 de novembro de 2009
sábado, 21 de novembro de 2009
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
PRÉMIO NACIONAL DE POESIA
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
2007 - ANTÓNIO CABRAL
2008 - CLÁUDIO LIMA
2009 - JOAQUIM DE BARROS FERREIRA
2010 - ANTÓNIO FORTUNA
sexta-feira, 20 de novembro de 2009
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
quarta-feira, 18 de novembro de 2009
sexta-feira, 13 de novembro de 2009
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
O FIM DAS PALAVRAS
Foi num dia concreto como grãos de trigo que
tu chegaste ao fim das palavras e
partiste
eu era os rochedos em que as ondas vinham desfezer-se
tu o barco que navegava na planície azul
alguém havia um dia de dizer como
dois seres inventam o silêncio e o habitam nesse
preciso lugar onde as palavras nada significam e
é inútil falar de amor ou de amargura
nem adeus nos dissemos de nada valeria
no cais de qualquer vida se desprendem os
sentimentos de seus nomes
anónimos e livres seguimos cada
qual por seu caminho até as próprias pedras
palpitavam de medo e de suspeita
alguém havia um dia de dizer como
dois seres se introduzem na pura solidão
cercados de vazias palavras arbitrárias e do
bater pontual do coração.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Foi num dia concreto como grãos de trigo que
tu chegaste ao fim das palavras e
partiste
eu era os rochedos em que as ondas vinham desfezer-se
tu o barco que navegava na planície azul
alguém havia um dia de dizer como
dois seres inventam o silêncio e o habitam nesse
preciso lugar onde as palavras nada significam e
é inútil falar de amor ou de amargura
nem adeus nos dissemos de nada valeria
no cais de qualquer vida se desprendem os
sentimentos de seus nomes
anónimos e livres seguimos cada
qual por seu caminho até as próprias pedras
palpitavam de medo e de suspeita
alguém havia um dia de dizer como
dois seres se introduzem na pura solidão
cercados de vazias palavras arbitrárias e do
bater pontual do coração.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
quinta-feira, 12 de novembro de 2009
quarta-feira, 11 de novembro de 2009
terça-feira, 10 de novembro de 2009
Américo Lisboa Azevedo
Era desmedido e fortalecedor o amor que sempre me uniu ao meu tio-avô.
Nos seus cansados e magros braços sentia-me deliciosamente aconchegado e credulamente seguro. Era como se soubesse que, na sua meiga e constante presença, perigo algum me ameaçasse.
A sua terna voz, graciosamente enrouquecida por longas décadas de fumo e por mil fados mal embalados, traía-lhe as lágrimas que, muitas vezes, engolira, em sufocos absorvidos e abafados pelos cavernosos e surdos ruídos de outras tantas medonhas noites que o levaram a adoptar o comprido travesseiro como seu mais digno e fiel confidente, logo após uma viuvez madrugadora. Enviuvara antes ainda de ter cotiado os primeiros lençóis nupciais. Uma moléstia ainda sem baptismo e sem catalogação nos anais da ciência vitimara mortalmente a sua extremosa e desvelada esposa e minha tia-avó materna.
Tudo isto aconteceu em vésperas dos meus pais contraírem matrimónio.
- Coitado do tio Zé! Como se deve sentir sozinho naquela casa grande,- observava a minha mãe.
- Sim, por certo que estará a sofrer atrozmente, - aquiescia o meu pai.
(. . .)AMÉRICO LISBOA AZEVEDO - CONTIGO APRENDO A CAMINHAR - Capa de ESPIGA PINTO
segunda-feira, 9 de novembro de 2009
ROCHA DE SOUSA
(. . .)
Havia uma funcionária nova, Conceição, que secara aos trinta anos, a boca desdentada, alguns cabelos brancos, a pele amarela, os olhos profundos, a par da maceração sombria que lhe cobria as pálpebras. Servente das serventes, era mal tratada pelo Firmino, que se julgava superior hierárquico dela e encolhia os ombros à fala disciplinadora de Felismina. O Manuel engordara, parecia curvado, mas os olhos pequenos continuavam brilhantes, a suscitar boa disposição. Conseguira arrastar o irmão para a Escola, um homem das arábias, não sei porquê, técnico de formação, fundidor, carpinteiro, electricista, engenheiro de projectores e máquinas afins, belíssimo pedreiro, operário de metais, e assim por diante, conforme o que surgia na acumulação de problemas a precisar de amanho. O falecido Acácio era, com efeito, um autodidacta multifacetado nas competências técnicas, e até artísticas, um caso raro, de bom trato, exemplo extraordinário de certo efeito polivalente projectado pelo emigrante chamado português jeitoso.
BELAS-ARTES E SEGREDOS CONVENTUAIS - ROCHA DE SOUSA
sexta-feira, 6 de novembro de 2009
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
dizíamos pedra e era um
sonho da
mais pura convulsão de sangue coroado dizíamos
pedra e
era um fruto no
mais alto dia do verão arrebatado
dizíamos pássaro e
eram os teus dedos na
minha mão cravados pássaro
dizíamos e
era o instante dos
teus olhos imóveis anunciados
que sombra projectam na realidade as
palavras que as coisas modificam da
evidência à verdade vai
o abismo dos
nomes que as indicam
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - Livro JÚBILO DA SEIVA
sonho da
mais pura convulsão de sangue coroado dizíamos
pedra e
era um fruto no
mais alto dia do verão arrebatado
dizíamos pássaro e
eram os teus dedos na
minha mão cravados pássaro
dizíamos e
era o instante dos
teus olhos imóveis anunciados
que sombra projectam na realidade as
palavras que as coisas modificam da
evidência à verdade vai
o abismo dos
nomes que as indicam
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - Livro JÚBILO DA SEIVA
terça-feira, 3 de novembro de 2009
segunda-feira, 2 de novembro de 2009
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