sexta-feira, 30 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

vê só os
nardos secaram e há
pouco choveu no
tenebroso mar se separaram os
nossos barcos e
havia luar anoitecia quando
partimos e
havia sol

levou o vento norte para as dunas os
aromas dos nardos dos lírios e
dos ciprestes sílaba por
sílaba o
teu nome

acenderam-se as luzes da cidade um
comboio parte para
sempre de um cais de pedra e água verde e
eu regresso

Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - Livro JÚBILO DA SEIVA

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

JOAQUIM DE BARROS FERREIRA

CAMPOS DE SOL

Chega-se e logo se entra
na terra vazada de confissões,
como quando se abre um grade livro.
Assim são estes campos de sol
desde o tempo dos tempos
por onde Ariadne alonga
seus extensos cabelos:
teias de vinhas verdes, verdes
e sol às tranças.

Onde quer que se esteja,
retido nas margens
ou deslizando solto no rio,
o canto de Circe ressoa
dia e noite,
cativando o sentido,
adormecendo a memória.

JARDINS SUSPENSOS - JOAQUIM DE BARROS FERREIRA

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

JOAQUIM DE BARROS FERREIRA

O SER DA TERRA E DA LÍNGUA - JOAQUIM DE BARROS FERREIRA

terça-feira, 27 de outubro de 2009

ROCHA DE SOUSA

BELAS - ARTES E SEGREDOS CONVENTUAIS - ROCHA DE SOUSA

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

ROCHA DE SOUSA


A CULPA DE DEUS - ROCHA DE SOUSA

sábado, 24 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

(. . .)
Simplesmente, porque a libertação foi "universal" mas não plural, porque a liberdade não consiste num número infinito de possibilidades mas apenas numa, essa individualização, paradoxalmente, custou-lhe o preço da liberdade e da própria vida. Porque, desde o momento em que partiu, desde o momento em que se auto-afirmou e individualizou, Vicente entrou num destino sem mais opções e alternâncias, sem outro contéudo e sentido que o da liberdade absurda, sem outro desfecho que o da morte soberana. Assim, o corvo, Vicente de nome próprio, por via de regra de todos os dogmas teológicos de todas as religiões (que crucificaram os seus próprios redentores) - terá de morrer afogado. Os sumérios Enkidu e Gilgamesh morreram. Antígona morreu. Sísifo desce e sobe a sua montanha absurdamente.
A não ser que Deus, desencantado por ver-se confrontado na sua soberania por uma criatura que ele próprio não reconhece como autónoma, deixe de tirar prazer desse facto e acabe por admitir que o seu poder, afinal de contas negativo, entrou num beco sem saída. (. . .)
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - SER E LER MIGUEL TORGA

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

CLÁUDIO LIMA

com um pouco de sol
animo a estática
estátua
da beleza

com um pouco de pasmo
plasmo o perfil
ágil e equívoco
do poema

com um pouco de mim
modelo um livro
difícil e polémico
- um apócrifo

e lavo as mãos

ganhei o dia
a disciplinar o verde
das searas

com um pouco de serenidade
aspiro a morte
na líquida evidência
dos espelhos

e morro em tronco nu
antes de o anjo chegar

CLÁUDIO LIMA - ITINERARIUM

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

CLÁUDIO LIMA

ITINERARIUM - CLÁUDIO LIMA

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

CARLOS AURÉLIO

CARLOS AURÉLIO - CONSIDERANDO OS FILÓSOFOS - capa de ESPIGA PINTO.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

CARLOS AURÉLIO

SAUDADE

A alma de Portugal é feita de Saudade e, a Saudade, alimenta-se de uma luz imorredoira e infinita de algo que já existiu e que não sabemos definir com exactidão. Sentimos uma Presença de ordem metafísica que nos acompanha há oito séculos ou, no plano individual, a nostalgia da infância que mora fundo em cada um de nós.
Nenhuma revolução política, nenhum acréscimo de desenvolvimento económico, resolve o sentimento de ausência e de exílio que os portugueses experimentam no seu próprio país. Falta sempre qualquer coisa de decisivo. Permanecemos vivos porque a Saudade não morre.
CONSIDERANDO OS FILÓSOFOS - CARLOS AURÉLIO

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - SER TORGA

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

MARIANA DE BRITO


MARIANA DE BRITO - ALENTEJO DE LONGE - capa de ESPIGA PINTO -120 pag. 15 €.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

JOÃO PINTO VIEIRA DA COSTA


JOÃO PINTO VIEIRA DA COSTA - FLORA DE BRINCADEIRAS - 17 €.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

JOÃO DE DEUS RODRIGUES


HISTÓRIAS MARAVILHOSAS DA TERRA QUENTE - JOÃO DE DEUS RODRIGUES, 348 páginas, 20 €.

sábado, 10 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

Hoje é o quarto dia de viagem. Está um belo dia azul e é domingo. O sol faz brilhar os canos brancos das corrediças deste navio que transporta para a guerra mais de mil e quinhentos homens. Mas não se fala de guerra. No bar, ao balcão e nos sofás, pequenos grupos de jovens oficiais milicianos conversam e bebem. Centenas de rapazes, mobilizados de todos os regimentos, podem agora reencontrar-se após a separação que sucedeu aos primeiros tempos de incorporação.
- Um poker para o Martini?, disse o Vasco.
Jogamos sem vontade.
- Dois Martinis, disse eu para o empregado do bar.
- É demasiado cedo para beber, disse o Vasco.
Ficámos ambos de rosto voltado para o rasto de espuma que o navio deixava através das águas e eu pensei como seria agradável ir lá fora respirar o ar puro.
(. . .)
ASSINALADOS - FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

ficou um poema no teu rosto a
mão cheia de amoras amêndoas e
morangos no teu colo dobrado cinco
pétalas de malmequer no chão cinco
dedos da mão cinco
sílabas do poema inacabado

veste a memória de luz os
nossos corpos nus e na
água nocturna do teu nome dilui o
desejo a cor do lume

ficou um poema no teu rosto que
eu não lerei mais não
voltará a roseira do
teu corpo a dar
rosas iguais

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - ANTOLOGIA POÉTICA

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

PRÉMIO NACIONAL DE POESIA - FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
2007 - ANTÓNIO CABRAL
2008 - CLÁUDIO LIMA
2009 - JOAQUIM DE BARROS FERREIRA
2010 - ANTÓNIO FORTUNA

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

Sidónia tinha, portanto, atrás de si um passado sepultado num profundo esquecimento legendário. E a arca dessa herança mítica submersa, que da casa do Prior passara para o convento, era guardada como o norte e único vínculo imaginável da sua solidão.
Sidónia é hoje um burgo antigo coroado de moinhos de vento e de terraços caiados, que todos os dias amanhece enterrado no nevoeiro. Os proprietários das imensas faldas circundantes, vestidas de vinhedos e olivais, vivem na cidade; os caseiros e os desempregados, os velhos e as mulheres doentes entregam-se ao tempo, pendurados nas varandas, de pensamento em pensamento, a jogar e a beber aguardente. Sidónia está situada no fundo de um vale, voltada a nascente, sob um promontório empinado de fraguedos despedaçados.
(. . .)
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES - ASSINALADOS