sábado, 6 de junho de 2009

SER TORGA


(...) Quando um homem nasce, nasce uma probabilidade absoluta.
Nasce uma aposta que, mesmo proverbialmente perdida, é repetida até ao absurdo.
Antes de uma obra, o homem é um projecto de a realizar. E a frustação é a maior medida interior que ele pode ter de si mesmo. Sensação de deficit, de diferença entre o que somos e o que quereríamos ter sido, é a frustação que nos dá a verdadeira profundidade do nosso tamanho.
Não que o homem deva estar de acordo com os agentes estranhos que o liquidam. Pelo contrário. Fora da revolta não há dignidade. Mas que esta dignidade não pode ser identificada com o currículo limpo de um coronel, somatório de medalhas e de louvores por leais e bons serviços. O homem tem direito ao valor moral de todos os seus actos, sem distinção daqueles que o sentido da vida não avalizou.
Se o homem não é uma pura entidade livre, ele não o é em primeiro lugar porque não sabe nem pode desligar-se da sua liberdade. É por isso que, quando nasce, nasce uma possibilidade ilimitada.
Ser Torga - FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
À memória de Fernão de Magalhães Gonçalves está instituído um Prémio de Poesia.

Sem comentários:

Enviar um comentário