quinta-feira, 1 de outubro de 2009

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

Sidónia tinha, portanto, atrás de si um passado sepultado num profundo esquecimento legendário. E a arca dessa herança mítica submersa, que da casa do Prior passara para o convento, era guardada como o norte e único vínculo imaginável da sua solidão.
Sidónia é hoje um burgo antigo coroado de moinhos de vento e de terraços caiados, que todos os dias amanhece enterrado no nevoeiro. Os proprietários das imensas faldas circundantes, vestidas de vinhedos e olivais, vivem na cidade; os caseiros e os desempregados, os velhos e as mulheres doentes entregam-se ao tempo, pendurados nas varandas, de pensamento em pensamento, a jogar e a beber aguardente. Sidónia está situada no fundo de um vale, voltada a nascente, sob um promontório empinado de fraguedos despedaçados.
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