sexta-feira, 31 de julho de 2009

O JORNALISTA

O jornalista queria passar despercebido e aproveitou um disfarce carnavalesco de croça de palha e dominó. Só apareceu em Cheires à noite, não no carro do jornal cujo nome estampado nas portas chamaria a atenção, mas num carro de praça de Vila Real. Como ainda faltava uma hora até o cortejo fúnebre começar, entrou num café para comer um cachorro quente e beber meia de leite, não se demorando. Sabia que era no adro da igreja que o desfile principiava e foi-se aproximando por entre a gente que já se apinhava no largo próximo onde os mirones, sobretudo forasteiros, mais acudiam. Dois rapazes entretanto tinham-no topado e olhavam-no de soslaio. Ele nas suas sete quintas, com baforadas de tabaco às rodinhas, a medir o que iria acontecer: pois bem, a padiola com o mono do Pai da Carne de falo arrebitado sai do adro, é isso. Atrás, um marmanjo a fazer de padre e outro de sacristão, pessoal com velas e a carpideira do costume: ai o meu Pai da Carne que vai morrer, coitadinho! Por aí fora e, ah, também uma campainha. (...)

Texto de ANTÓNIO CABRAL

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