segunda-feira, 4 de outubro de 2010

CONCEIÇÃO ROSA

NO FUNDO DO POÇO

Edmundina Paranunca arrumou-se no canto da sala de espera. Olhou o espaço todo, as cadeiras vazias, limpas dos corpos sentados, aguardando aliviar os pesos da alma. Seria possível que o mundo estivesse assim tão cheio de ausências do sofrimento humano? Só ela sentiria tal dor que, por não aguentar, recorresse àquele consultório tão vazio?
Edmundina pouco consultava os médicos das doenças físicas. Os seus afazeres não lhe emprestavam tempo para as doenças se lhe adentrarem. Nas poucas vezes que tinha estado num desses consultórios reparou que havia muitos doentes vivendo em eterna aflição. Aí trocavam-se dores, comparavam-se sintomas e cada um fazia questão de contar a sua história tentando transparecer o seu sofrimento como sendo o mais sofredor e penoso de todos.
E assim, enquanto esperavam a sua vez de entrar, aliviavam o espírito fazendo-se protagonistas sofredores da vida. Todos queriam esmiuçar as suas dores, emprestando agonias estampadas nos rostos gastos. (. . .)


CONCEIÇÃO ROSA - A ASA PARTIDA


NOVIDADE

Sem comentários:

Enviar um comentário