sábado, 21 de dezembro de 2019

Fernão de Magalhães Gonçalves





NATAL


     - Amanhã há comédias - disse a mãe velhinha para o irmão de Floriano, que vivia longe e viera consoar com a família. Amanhã há comédias e tu tens de ficar.
     - Vamos ver, disse o filho recém-chegado.
     As comédias que, no dia seguinte, teriam lugar na Freiria, na garagem de Floriano, eram uma peça de teatro que o P. Maldonado ensaiara, que metia vinte e uma figuras, e cujo lance dramático exemplar consistia em o Celso de Mascanho puxar presumivelmente de uma pistola para o ladrão do Palhinhas - e encontrar no bolso, em vez do "ferro", um rosário de pau. O que era um milagre da Senhora do Rosário. Estas comédias já tinham corrido em outros povos de Jou e, nas costas do padre, rosnava-se que os actores diziam todas as vezes a mesma coisa.
     - Uns impostores.
     Estava-se, pois, em noite de consoada. (…)

Texto de Fernão de Magalhães Gonçalves
Livro - Modo de Vida, pág. 61



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