terça-feira, 5 de junho de 2018

Fernão de Magalhães Gonçalves







       Hoje é o quarto dia de viagem. Está um belo dia azul e é domingo. O sol faz brilhar os canos brancos das corrediças deste navio que transporta para a guerra mais de mil e quinhentos homens. Mas não se fala de guerra. No bar, ao balcão e nos sofás, pequenos grupos de jovens oficiais milicianos conversam e bebem. Centenas de rapazes, mobilizados de todos os regimentos, podem agora reencontrar-se após a separação que sucedeu aos primeiros tempos de incorporação.
       - Um poker para o Martini?, disse o Vasco.
         Jogamos sem vontade.
       - Dois Matinis, disse eu para o empregado do bar.
       - É demasiado cedo para beber, disse o Vasco.
         Ficámos ambos de rosto voltado para o rasto de espuma que o navio deixava através das águas e eu pensei como seria agradável ir lá fora respirar o ar puro.
         Saímos para o portaló. O capelão prosseguia a homilia. O vento impelia-lhe a casula verde para o ar e uma multidão de soldados sentados no porão da proa, nas baleeiras, nas corrediças e nos tampos dos porões, assistiam em silêncio. (. . .)

Fernão de Magalhães Gonçalves
Livro - Assinalados, pág. 15
Capa de Espírito Santo Esteves


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