quarta-feira, 21 de junho de 2017

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES




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No Junho daquele ano, muito sangue correu nas terras da Garraia. Primeiro, foi o Castanha Seca que segou as pernas do Ferrador com uma gadanha. Nesse mesmo dia, à tarde, o Ruço de Toubres abriu a cabeça do Arnilhas com a folha de uma enxada rasa. Meados do mês, vindo à frente dos bois, o Teófilo embelinhou as pernas na vara, tombou de borco e o arco da roda direita do carro carregado de estrume traçou-lhe a cabeça pelas fontes. Isto sem contar a filha da Pisca que se meteu de cabeça ao fundo num tambor de sulfato. Saíra de freira por causa do namorado. E este acabou por levar um tiro na festa do Cubo.
O Sacristão não tinha mãos a medir e, meia volta, volta e meia, lá estavam os sinos a dobrar.
Fosse como fosse, naquela madrugada, estranhamente enevoada, Adelaide Carriça, viúva do Adolfo Resineiro, foi encontrada pendurada pelo pescoço, sobre o quinteiro, de uma corda presa à trave da varanda da frente.
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FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Livro - MODO DE VIDA





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