quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

JOAQUIM DE BARROS FERREIRA













2 comentários:

  1. O Contrato

    Comandante e eu,
    ambos ligados por um contrato

    que tem data-limite,
    e, pior, com fim imprevisível,
    o que corresponde
    a estar, permanentemente,
    de sentinela alerta.



    VIAGEM

    Passagem, se entenda.

    Dela se diz ser breve
    e longa.

    De qualquer sorte,
    viagem,
    dependendo não tanto da partida,
    mas da chegada.



    ALIJAR DE CARGA

    Houve que alijar a carga.
    A viagem é longa
    e este percurso é pessoal, solitário,
    além de que não é licito
    o retrocesso.
    Não há outra maneira de contornar
    a realidade, desde que
    passámos a adquirir um bilhete.

    Ficou para trás a linha de flamingos
    na língua da areia.
    Ficou a rapariga do bar da Foz,
    com que olhos azuis enchendo o ar...
    Ficou o velho das castanhas assadas,
    envolto em fumarada.
    Enfim ficou também o eléctrico amarelo em seu
    fim de viagem.

    No porão apenas vão:
    o desagravo,
    sabendo a sal,
    e um mundo de interrogações.

    In MIL VOZES EM CONSERTO

    JOAQUIM DE BARROS FERREIRA

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  2. Subtileza

    Que toque é este
    o da luz
    que vai ao fundo,
    ao mais fundo
    das águas
    escuras.

    Afinal luz
    até em qualquer
    fundo poço.



    Como um elixir de amor

    É como eu e ele,
    seguindo na mesma viagem.

    Onde eu lanço âncora
    também ele lança amarra,
    onde estou,
    ele está presente.

    A mesma rota,
    igual destino,
    inseparáveis desde que decidido
    fazer-me à procura.
    É como se eu tocasse
    e ele se juntasse a mim.

    Desde então trancámos o leme,
    deixando que sua sombra
    se una à minha.

    In Mil Vozes em Conserto

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