terça-feira, 24 de janeiro de 2017

JOÃO DE DEUS RODRIGUES


3 comentários:

  1. AS AVES DO MEU JARDIM

    As aves do meu jardim,
    De plumagem variada,
    São o toque de clarim,
    Ao romper da alvorada.

    É o melro, bem negrinho,
    E o pardal acastanhado.
    É o pintassilgo malhadinho,
    E o tentilhão sarapintado.

    E a carriça, mãe galinha,
    Leva a prole de flor em flor,
    E geme a rola, coitadinha,
    No seu cântico de amor.

    São tão belas as avezinhas,
    Que cantam no meu jardim.
    Que de as ver tão contentinhas,
    Até me apetece cantar a mim.

    João de Deus Rodrigues
    In Passagens e Afectos

    ResponderEliminar
  2. A PASTORA DA SERRANIA DE MONTALEGRE

    Pastora, linda pastora,
    Que amaste a serrania,
    Por onde andaste sedutora,
    Cantando com alegria.

    Os teus amores eram sonhos,
    Eram montes, eram fontes.
    Eram cheiros, eram frutos,
    Na procura de horizontes.

    E a tua luz foi o luar,
    Pastora, linda pastora,
    Tão feliz e encantadora,
    Cheia de amor para dar.

    O teu perfume silvestre,
    Emanava das montanhas.
    Suave como ais que davas,
    No acordar das manhãs.

    E o vento que acariciava
    A tua face rosada,
    Quando por ti passava
    Fazia pausa demorada.

    Queri beijar teus lábios,
    Acariciar as tuas tranças.
    Pastora de sonhos sábios,
    E de perpétuas esperanças.

    A de um dia encontrares,
    Descendo ágil a serrania,
    O teu amado para lhe dares,
    O amor que em ti havia.

    Amor virgem e maduro,
    Que guardavas no coração,
    Para lhe entregares puro,
    Numa hora de paixão.

    Pastora, linda pastora,
    Que amaste a serrania,
    Onde cantaste em amor,
    Àquele que não viria.

    E o tempo assim levou
    Teus sonhos de fantasia.
    Mas o teu amor não secou,
    Ainda se ouve na pradaria.

    In Passagens e Afectos
    JOÃO DE DEUS RODRIGUES

    ResponderEliminar
  3. O Meu Carro de Ladeira

    Eu fiz um carro,
    De ladeira,
    Com quatro tabuinhas,
    Arrancadas da capoeira.

    E pus-lhe um volante
    E duas rodas e um eixo,
    Tosco,
    De pau de amieiro,
    À maneira de arrocho.

    As rodas, de cortiça,
    Não chiavam.
    E os pedais e o travão
    Eram os pés,
    Fincados no chão.

    Para baixo,
    Trazia-me ele.
    Para cima,
    Levava-o eu.
    Como o tempo era nosso,
    Quando ele tombava
    Caía eu.

    Era assim,
    O meu carro de ladeira.
    Sem travões nem direcção.
    Mas que servia, perfeito,
    À minha admiração.

    In Passagens e Afectos

    ResponderEliminar