segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

BOAS FESTAS




Desenho de ESPIGA Pinto

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FRANCISCO DE ASSIS

Há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
com palavras tuas me ensinaram
desde o berço
o nome da liberdade e o do pão
o nome da fome do fogo e o do vento
assim começou a minha história
fui a carne da tua memória
e da tua lição

por ti
grandes e pequenos escravos e
senhores
máscaras do rosto comum de
toda a gente
rimavam
com os sinais interiores
que na minha mente
acordavam
a luz do sol a cor da água o lume das flores

por ti
morena ao sol de Abril
sangrou uma flor na pedra do meu punho
em teu nome se fizeram minhas
as tuas chagas impressas
(eram a liberdade e o seu testemunho
que ateavam a centelha
da igualdade vermelha
do sangue vasculhado de promessas)

há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
a liberdade já não está onde estão
as flores
onde estão os pobres
onde está o vento
madrugada de um momento
sonho escrito e apagado
neste tempo quadrado
a fraternidade da tua
lição
morreu dentro dos homens
sua única vontade
sua última prisão.

Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES






1 comentário:

  1. MOISÉS

    Só eu
    desde os lagos do Egipto
    soube rasgar este caminho
    com a minha vara e o meu grito

    foi das traves de cedro dos meus braços
    que estas segundas tábuas se fizeram
    (onde as leis que ficaram se escreveram)
    que as colunas de fogo se atiçaram
    e que as nuvens de fumo fumegaram

    aqui
    à vista do meu sonho e do meu povo
    na crista do monte Nebo
    fim do meu roteiro
    onde recebo
    a morte
    como sorte
    e prémio derradeiro

    até ao fim dos anos eu durei
    até ao fim da esperança eu esperei
    até ao fim da dor me contestei

    até ao fim da fé acreditei

    por isso a água das fragas acabou
    e ninguém mais
    o mar ou uma montanha recuou.

    pelos lábios grossos de profeta
    bebi o vinho e o fel
    com que Javé sagra as línguas que o ensinam
    agora outros respondam
    ao sorriso da sua inspiração

    em vez do leite e do mel que em Canaan germinam
    eu só veria as águas do Jordão.

    In Memória Imperfeita
    Fernão de Magalhães Gonçalves

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