segunda-feira, 6 de junho de 2016

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES




DESTINO BREVE


Pelas onze horas de uma larga manhã dos fins de Junho, dois guardas de Murça entraram no baixo do Urbano, que ficava logo à entrada da povoação. Descobriram-se, cumprimentaram o dono e os presentes com poucas palavras, puxaram de grandes lenços tabaqueiros para limpar o suor das rugas da testa e dos regos do pescoço e mandaram pendurar as armas lá dentro.
Urbano aviou dois ou três fregueses e, depois, encaminhou os guardas para o compartimento interior separado da taberna por um taipal sólido que, simultaneamente, servia de mostruário de relhas, ferros de monte, rolos de arame, folhas de seitoira e gadanhas e várias marcas de insecticidas. Lá dentro, havia vários mochos em torno de uma grade de cerveja voltada ao alto. A mulher de Urbano desceu, deu os bons dias, cobriu a grade com uma toalha, centrou-a com um prato de lascas de presunto, distribuiu os copos e foi pelo vinho.
Urbano veio depois acompanhá-los e foi sabendo que a participação que os trazia a Jou tinha chegado a Murça muito cedo. Sete, oito horas - mais ou menos.
- Mas, para dizer a verdade, foi dizendo um dos guardas que se chamava Amílcar - ninguém mostrou grande pressa em adiantar o processo.
(. . .)




FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Livro de Contos - MODO DE VIDA







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