quinta-feira, 20 de março de 2014

FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES



"Los dos ríos de Granada
bajan de la nieve al trigo.
               ( . . . )
Por el agua de Granada sólo
    reman los suspiros".             

Frederico Garcia Lorca




Tempo da memória evadida para a neve que coroa o perfil da Alcazaba e dos ciprestes. Em Abril, ao aroma das flores de laranjeira, regressam do deserto os pássaros expatriados. E, quando a tua boca ao meu ouvido murmura que, tijolo a tijolo, esta cidade foi construída para o amor e para o prazer, - logo pula a caveira da mão de S. Bruno rolando sonoramente no claustro de Cartuja. Param no seu leito os dois rios lendários. Sobrevém o silêncio e o luar de um certo verde olhar puramente atento ao bater do coração e ao ruído da água - os incontidos soluços de Boabdil, partindo com lágrimas vencido. Dividida e ausente pátria hedonista. Às mãos da tua ira, se abatem os touros e os poetas. Cinge-nos dos cravos do seu sangue. Terra ao sol. Terra ao sul. Em castelhano, Granada, - em português, romã.




Texto de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES

Livro - MEMÓRIA IMPERFEITA

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