quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

O SÉTIMO SENTIDO



RESPIRAÇÃO

O país de marinheiros sonhou e foi mais além. Mil quilómetros de rosto espetado no mar afogaram os Velhos do Restelo que outros feitos queriam que não apenas o de enfunar velas de sonho.
Tudo se ganhou e tudo se perdeu à semelhança do mar que vai e volta, sem nunca se repetir. Homens crucificados nas âncoras das Catrinetas elevaram um povo e ganharam um mundo. Este ganhou conhecimento, perdendo-se, ao mesmo tempo, a virgindade de muitos outros povos. A partir daí . . . !
Construir um futuro sobre despojos de outros é um exercício de pura inutilidade. É o efémero do tempo que no-lo diz. O futuro é o tempo que queremos já, aberto e risonho, à medida de cada um. Mas o futuro que se quer não é o futuro que se tem . . .
E o que se tem? Sim, o que se tem?
Degradação a cada instante. Degradação material, envelhecimento inevitável até à morte. Agora, mais logo, depois . . . , que importa . . . o físico, o material, morre. Eis a degradação, eis a matéria sem valor.
Aventureiros regressados - com mapas, riquezas e tudo - e Velhos do Restelo, ancorados por raízes, lavam, agora, as suas memórias nos mil quilómetros de rosto espetados no mar. Olhamos, hoje, o pôr-do-sol no horizonte, fixo como se a Terra tivesse desistido da sua rotação.
A ilusão em que vivemos, esperando a chegada do famoso Quinto Império, vai-se desvanecendo, pouco a pouco, com a degradação do racional, deixando-nos guiar por guardadores do pôr-do-sol permanente, armados com os seus exércitos, as suas leis e os inevitáveis "artistas" que o pintam à sua imagem. ( . . .)


ANTÓNIO FORTUNA

O SÉTIMO SENTIDO

Capa de ESPIGA



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