A TARTARUGA é um projecto cultural e humanista, divulga e enobrece a língua e a cultura portuguesas.
Para Platão, a inspiração poética está ligada ao entusiasmo e à posse do sentido do divino.
Para Aristóteles, a poesia, qualquer que seja o seu objecto, heróica ou satírica, e a sua forma, dramática, lírica ou épica pertence às artes de imitação. Enraizada na natureza, a poesia é o lugar de uma verdade mais filosófica e universal do que a simples exactidão histórica.
Porque a história da nossa literatura o impõe e o seu objectivo final é levar aos leitores o registo escrito do pensamento e criatividade que brotam de fontes inesgotáveis aqui estamos, cada vez mais, mostrando a nossa língua no seu melhor e demonstrando que é uma língua viva comunicante, bela e com uma identidade inquestionável.
A essência da escrita é deliciar os leitores e os autores depois da execução lírica, captando cada instante com emoções e atraídos pela maravilhosa interpretação de palavras e imagens representadas e delineadas em cada página do livro.
AS AVES DO MEU JARDIM
ResponderEliminarAs aves do meu jardim,
De plumagem variada,
São o toque de clarim,
Ao romper da alvorada.
É o melro, bem negrinho,
E o pardal acastanhado.
É o pintassilgo malhadinho,
E o tentilhão sarapintado.
E a carriça, mãe galinha,
Leva a prole de flor em flor,
E geme a rola, coitadinha,
No seu cântico de amor.
São tão belas as avezinhas,
Que cantam no meu jardim.
Que de as ver tão contentinhas,
Até me apetece cantar a mim.
João de Deus Rodrigues
In Passagens e Afectos
A PASTORA DA SERRANIA DE MONTALEGRE
ResponderEliminarPastora, linda pastora,
Que amaste a serrania,
Por onde andaste sedutora,
Cantando com alegria.
Os teus amores eram sonhos,
Eram montes, eram fontes.
Eram cheiros, eram frutos,
Na procura de horizontes.
E a tua luz foi o luar,
Pastora, linda pastora,
Tão feliz e encantadora,
Cheia de amor para dar.
O teu perfume silvestre,
Emanava das montanhas.
Suave como ais que davas,
No acordar das manhãs.
E o vento que acariciava
A tua face rosada,
Quando por ti passava
Fazia pausa demorada.
Queri beijar teus lábios,
Acariciar as tuas tranças.
Pastora de sonhos sábios,
E de perpétuas esperanças.
A de um dia encontrares,
Descendo ágil a serrania,
O teu amado para lhe dares,
O amor que em ti havia.
Amor virgem e maduro,
Que guardavas no coração,
Para lhe entregares puro,
Numa hora de paixão.
Pastora, linda pastora,
Que amaste a serrania,
Onde cantaste em amor,
Àquele que não viria.
E o tempo assim levou
Teus sonhos de fantasia.
Mas o teu amor não secou,
Ainda se ouve na pradaria.
In Passagens e Afectos
JOÃO DE DEUS RODRIGUES
O Meu Carro de Ladeira
ResponderEliminarEu fiz um carro,
De ladeira,
Com quatro tabuinhas,
Arrancadas da capoeira.
E pus-lhe um volante
E duas rodas e um eixo,
Tosco,
De pau de amieiro,
À maneira de arrocho.
As rodas, de cortiça,
Não chiavam.
E os pedais e o travão
Eram os pés,
Fincados no chão.
Para baixo,
Trazia-me ele.
Para cima,
Levava-o eu.
Como o tempo era nosso,
Quando ele tombava
Caía eu.
Era assim,
O meu carro de ladeira.
Sem travões nem direcção.
Mas que servia, perfeito,
À minha admiração.
In Passagens e Afectos