A TARTARUGA é um projecto cultural e humanista, divulga e enobrece a língua e a cultura portuguesas.
Para Platão, a inspiração poética está ligada ao entusiasmo e à posse do sentido do divino.
Para Aristóteles, a poesia, qualquer que seja o seu objecto, heróica ou satírica, e a sua forma, dramática, lírica ou épica pertence às artes de imitação. Enraizada na natureza, a poesia é o lugar de uma verdade mais filosófica e universal do que a simples exactidão histórica.
Porque a história da nossa literatura o impõe e o seu objectivo final é levar aos leitores o registo escrito do pensamento e criatividade que brotam de fontes inesgotáveis aqui estamos, cada vez mais, mostrando a nossa língua no seu melhor e demonstrando que é uma língua viva comunicante, bela e com uma identidade inquestionável.
A essência da escrita é deliciar os leitores e os autores depois da execução lírica, captando cada instante com emoções e atraídos pela maravilhosa interpretação de palavras e imagens representadas e delineadas em cada página do livro.
PAUSA AO ENTARDECER
ResponderEliminarEmbarco na madrugada
de um dia sem nome no calendário.
Sigo sem rumo
pelo mar de todos os viandantes.
Não tenho horário
nem fio de prumo.
Sombrio
apenas me guio
pelo rasto dos outros navegantes.
É frágil a minha embarcação
que pode tombar
a cada instante,
se a ventania vier
no alto-mar.
Nem colete de salvação
levo comigo
nesta viagem incerta em que o perigo
me aperta
e me arrepia.
Posso naufragar em cada dia
desta viagem em que me vou,
triste como sou,
cumprindo o meu destino.
Solitário
e franzino,
aqui estou,
nesta pausa ao entardecer,
pronto a rever
o fadário
que em sorte me calhou.
E enquanto Deus quiser
assim me vou.
(23 de Abril de 1990)
In Poesia, Amoras e Presunto
Barroso da Fonte
À Minha Terra
ResponderEliminarBarroso, minha terra, meu amor
e vida de pesar sempre constante,
para ti ergo hoje, tão distante,
a minha voz, magoada pela dor.
Vencido no lutar do desamor,
Eu mesmo fui de mim beligerante;
e cá estou, desterrado,a cada instante,
chorando-te e chorando o meu pendor.
Ébrio de enganos, vivo as minhas horas,
na esperança, plangente das auroras,
sócias minhas, na dor do meu desterro.
Mas descansa que no auge desta guerra,
hei-de noivar contigo, ó minha Terra,
na catedral sombria do meu erro.
(Vila Real, Fevereiro d 1961)
In Poesia, Amoras & Presunto