O TOUTINEGRA
As nuvens descarregavam aos baldões as águas que lavavam as terras vestidas de Inverno. Os caminhos cheios de fragas e lodo dificultavam a marcha do Toutinegra que, atolado até aos artelhos, manquitava de pedra em pedra atrás da boiada, a caminho de casa. Os bois saltavam ao ritmo das pauladas do dono.
Nunca uma alcunha assentou tão bem a uma pessoa. A figura atarracada e forte aconchegava um rosto escuro e rude, em que os sorrisos formados nos lábios o transformavam num Adamastor desgastado, como diziam os rapazes que o comparavam à carantonha que viam estampada nos livros da escola. Essa maneira de ser, dura para os animais, para as pessoas e para consigo próprio, ajudou à galvanização do nome Toutinegra. (. . .)
ANTÓNIO FORTUNA
O SENHOR DA TERRA QUENTE
Capa e 9 desenhos de ESPIGA
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