sábado, 22 de setembro de 2012

ANTÓNIO CABRAL

ANTÓNIO CABRAL
A TENTAÇÃO DE SANTO ANTÃO
PRÉMIO NACIONAL DE POESIA
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Capa de ESPIGA PINTO

1 comentário:

  1. QUANDO A BORBOLETA - ANTÓNIO CABRAL

    QUANDO
    a borboleta pousa
    as cores deixam de se ouvir
    como a água que não corre.
    Talvez a cor seja um lugar
    de passagem que se vai repetindo.
    um modo de a borboleta
    comunicar connosco
    e ainda não conseguimos perceber.

    VÊ ESTA FLOR
    interrompida,
    quase seca. Vê-la-ias melhor
    se estivesses dentro dela
    até à última asa de perfume
    e alguém te fechasse a porta
    de saída, apenas a abrindo
    ao gritares por socorro?

    O QUE
    interrompemos
    deixa cair os vidros
    que ferem
    se ficarmos para trás.

    DIZ-ME
    que as estrelas
    têm alguma coisa
    ainda inicial
    no lado que se não vê,
    por exemplo,
    um sabor a resina,
    nos olhos de Lo
    quando pisam as ervas
    de noite, o que está
    adormecido, talvez um
    horizonte ferido
    a mover-se
    nos canaviais.

    Diz-me se é a tua mão
    que vai colhendo
    os silêncios
    não preenchidos
    em cada página
    acumulada
    como o que resta do
    automóvel na berma
    -este modo de andar
    à procura de nada
    no espaço onde
    ocorreu um relâmpago
    como se vê no fiolho
    seco dos taludes.

    Diz ao menos o teu nome.
    ...

    In A Tentação de Santo Antão
    mg

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