QUANDO a borboleta pousa as cores deixam de se ouvir como a água que não corre. Talvez a cor seja um lugar de passagem que se vai repetindo. um modo de a borboleta comunicar connosco e ainda não conseguimos perceber.
VÊ ESTA FLOR interrompida, quase seca. Vê-la-ias melhor se estivesses dentro dela até à última asa de perfume e alguém te fechasse a porta de saída, apenas a abrindo ao gritares por socorro?
O QUE interrompemos deixa cair os vidros que ferem se ficarmos para trás.
DIZ-ME que as estrelas têm alguma coisa ainda inicial no lado que se não vê, por exemplo, um sabor a resina, nos olhos de Lo quando pisam as ervas de noite, o que está adormecido, talvez um horizonte ferido a mover-se nos canaviais.
Diz-me se é a tua mão que vai colhendo os silêncios não preenchidos em cada página acumulada como o que resta do automóvel na berma -este modo de andar à procura de nada no espaço onde ocorreu um relâmpago como se vê no fiolho seco dos taludes.
A TARTARUGA é um projecto cultural e humanista, divulga e enobrece a língua e a cultura portuguesas.
Para Platão, a inspiração poética está ligada ao entusiasmo e à posse do sentido do divino.
Para Aristóteles, a poesia, qualquer que seja o seu objecto, heróica ou satírica, e a sua forma, dramática, lírica ou épica pertence às artes de imitação. Enraizada na natureza, a poesia é o lugar de uma verdade mais filosófica e universal do que a simples exactidão histórica.
Porque a história da nossa literatura o impõe e o seu objectivo final é levar aos leitores o registo escrito do pensamento e criatividade que brotam de fontes inesgotáveis aqui estamos, cada vez mais, mostrando a nossa língua no seu melhor e demonstrando que é uma língua viva comunicante, bela e com uma identidade inquestionável.
A essência da escrita é deliciar os leitores e os autores depois da execução lírica, captando cada instante com emoções e atraídos pela maravilhosa interpretação de palavras e imagens representadas e delineadas em cada página do livro.
QUANDO A BORBOLETA - ANTÓNIO CABRAL
ResponderEliminarQUANDO
a borboleta pousa
as cores deixam de se ouvir
como a água que não corre.
Talvez a cor seja um lugar
de passagem que se vai repetindo.
um modo de a borboleta
comunicar connosco
e ainda não conseguimos perceber.
VÊ ESTA FLOR
interrompida,
quase seca. Vê-la-ias melhor
se estivesses dentro dela
até à última asa de perfume
e alguém te fechasse a porta
de saída, apenas a abrindo
ao gritares por socorro?
O QUE
interrompemos
deixa cair os vidros
que ferem
se ficarmos para trás.
DIZ-ME
que as estrelas
têm alguma coisa
ainda inicial
no lado que se não vê,
por exemplo,
um sabor a resina,
nos olhos de Lo
quando pisam as ervas
de noite, o que está
adormecido, talvez um
horizonte ferido
a mover-se
nos canaviais.
Diz-me se é a tua mão
que vai colhendo
os silêncios
não preenchidos
em cada página
acumulada
como o que resta do
automóvel na berma
-este modo de andar
à procura de nada
no espaço onde
ocorreu um relâmpago
como se vê no fiolho
seco dos taludes.
Diz ao menos o teu nome.
...
In A Tentação de Santo Antão
mg