Desenho de ESPIGA Pinto
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FRANCISCO DE ASSIS
Há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
com palavras tuas me ensinaram
desde o berço
o nome da liberdade e o do pão
o nome da fome do fogo e o do vento
assim começou a minha história
fui a carne da tua memória
e da tua lição
por ti
grandes e pequenos escravos e
senhores
máscaras do rosto comum de
toda a gente
rimavam
com os sinais interiores
que na minha mente
acordavam
a luz do sol a cor da água o lume das flores
por ti
morena ao sol de Abril
sangrou uma flor na pedra do meu punho
em teu nome se fizeram minhas
as tuas chagas impressas
(eram a liberdade e o seu testemunho
que ateavam a centelha
da igualdade vermelha
do sangue vasculhado de promessas)
há tanto tempo que eu não escrevo um verso
meu pai e meu irmão
a liberdade já não está onde estão
as flores
onde estão os pobres
onde está o vento
madrugada de um momento
sonho escrito e apagado
neste tempo quadrado
a fraternidade da tua
lição
morreu dentro dos homens
sua única vontade
sua última prisão.
Poema de FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
MOISÉS
ResponderEliminarSó eu
desde os lagos do Egipto
soube rasgar este caminho
com a minha vara e o meu grito
foi das traves de cedro dos meus braços
que estas segundas tábuas se fizeram
(onde as leis que ficaram se escreveram)
que as colunas de fogo se atiçaram
e que as nuvens de fumo fumegaram
aqui
à vista do meu sonho e do meu povo
na crista do monte Nebo
fim do meu roteiro
onde recebo
a morte
como sorte
e prémio derradeiro
até ao fim dos anos eu durei
até ao fim da esperança eu esperei
até ao fim da dor me contestei
até ao fim da fé acreditei
por isso a água das fragas acabou
e ninguém mais
o mar ou uma montanha recuou.
pelos lábios grossos de profeta
bebi o vinho e o fel
com que Javé sagra as línguas que o ensinam
agora outros respondam
ao sorriso da sua inspiração
em vez do leite e do mel que em Canaan germinam
eu só veria as águas do Jordão.
In Memória Imperfeita
Fernão de Magalhães Gonçalves