DESTINO BREVE
Pelas onze horas de uma larga manhã dos fins de Junho, dois guardas de Murça entraram no baixo do Urbano, que ficava logo à entrada da povoação. Descobriram-se, cumprimentaram o dono e os presentes com poucas palavras, puxaram de grandes lenços tabaqueiros para limpar o suor das rugas da testa e dos regos do pescoço e mandaram pendurar as armas lá dentro.
Urbano aviou dois ou três fregueses e, depois, encaminhou os guardas para o compartimento interior separado da taberna por um taipal sólido que, simultaneamente, servia de mostruário de relhas, ferros de monte, rolos de arame, folhas de seitoira e gadanhas e várias marcas de insecticidas. Lá dentro, havia vários mochos em torno de uma grade de cerveja voltada ao alto. A mulher de Urbano desceu, deu os bons dias, cobriu a grade com uma toalha, centrou-a com um prato de lascas de presunto, distribuiu os copos e foi pelo vinho.
Urbano veio depois acompanhá-los e foi sabendo que a participação que os trazia a Jou tinha chegado a Murça muito cedo. Sete, oito horas - mais ou menos.
- Mas, para dizer a verdade, foi dizendo um dos guardas que se chamava Amílcar - ninguém mostrou grande pressa em adiantar o processo.
(. . .)
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Livro de Contos - MODO DE VIDA
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