LUAR DE AGOSTO
- Enxota-me essas moscas, porra.
Floriano vinha azedo. Quando soube que o adubo ia subir dali a três dias, meteu-se no camião, foi carregá-lo a Chaves e deixou a arranca das batatas entregue à mulher.
Marília veio cobrir a melancia com uma rodilha.
- Vieste bem tarde.
- E antes não fosse.
- Não trazes o adubo?
- Cem cães a um osso. Trouxe areia para não perder o carreto.
- Hoje é só amoladelas, disse Marília.
- Que houve?, quis saber Floriano.
- Olha, o Silvano e o Malhão. Cheios de vinho. Pegaram-se. Foi uma arrelia tão grande que ainda vai dar uma desgraça.
- O Malhão e as brincadeiras do costume, estou mesmo a ver, disse Floriano. Marília pegou-lhe na palavra.
- Primeiro, começou por desfazer no serviço do Silvano. És um palhinhas que nem enterras os ganchos da enxada, não aguentas meia canada que ficas logo com braços de arame, envergonhas a mulher e não sustentas os filhos, nem para uma barra de sabão forras, que lá em casa anda tudo com remelas nos olhos e côdeas no nariz. (. . .)
FERNÃO DE MAGALHÃES GONÇALVES
Livro - MODO DE VIDA
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